quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Mundo de farsas e hipocrisias.

Sempre me deparo com situações nas quais tendo a julgar algumas pessoas, momentos em que sinto vontade de cumprimentar a pessoa e dizer: "- Parabéns, você é um ótimo ator." 
Nesses momentos a hipocrisia torna-se quase palpável, saindo do mundo abstrato e sorrindo pra mim. Às vezes sinto-me convidado a participar do espetáculo, da peça teatral, mas ignoro, pois não sei fingir por tanto tempo.
Semana passada, estava aguardando um ônibus próximo a uma igreja (melhor não citar o nome) e fiquei prestando atenção no discurso do pastor. Ele falava sobre como deus tinha um propósito pra eles, que tudo depende da vontade dele, que não cairia uma folha de uma árvore sem sua permissão, que tudo tinha um significado e que somente ajudando aos nossos semelhantes e demonstrando desprendimento com nossas posses é que seriamos dignos de tudo que temos.
Olhei para o lado contrario ao fluxo de veículos da rua e notei que vinha uma pessoa agachada, parecendo estar se arrastando. Quando essa pessoa entrou na faixa de luminosidade oriunda da igreja, consegui ver que era um garoto, aparentava uns 20 anos que usava dois chinelos nas mãos, uma calça jeans rasgada nos joelhos, sapatos gastos e que se locomovia como um animal de quatro patas.
O garoto parou em frente da igreja, ficou uns 10 minutos, ouvindo e olhando para o chão. Fiquei imaginando o que ele poderia estar sentindo ou pensando. Quando ele virou-se, talvez com intenção de entrar, foi de imediato a mudança de tonalidade na voz do pastor e ouvi o pedido (falado um pouco mais baixo e distante do microfone): "-Seguranças, tirem aquele senhor da entrada."
Dois seguranças pegaram o garoto pelos ombros e levaram para a calçada, bem próximo a mim.
Ele continuou seu caminho, sem levantar a cabeça, notei que suas mãos eram grossas e pareciam deformadas. Não resisti e perguntei se havia sido maltratado pelos seguranças, não obtive resposta, fui ate seu lado e perguntei novamente. Ele levantou a cabeça, tentando me olhar e disse que estava tudo bem, que não deveria me preocupar.
Eu não queria demonstrar dó ou algo parecido, fiquei escolhendo as palavras e pensando em como continuaria a conversa.
Após alguns segundos de silêncio achei melhor me despedir.
A Hipocrisia tinha novamente se mostrado pra mim, sorrido pra mim, eu estava novamente na presença de um ótimo ator.
Algo ficou flutuando na minha cabeça esses dias: "Será que faço parte dessa farsa?”